
Carlos Marques, escultor, professor e um dos fundadores da ESAD Matosinhos, tem vindo a explorar a memória das expressões plásticas que, de uma forma ou de outra, se tornaram referência para a escultura que sempre o interessou. Assim, a sistematização e a construção modular em André; a colagem e abstração biomórfica em Arp; a atitude auto-suficiente, a insistência no talhe direto e a procura depurada de Brancusi; o conceptualismo e o ready made de Duchamp; a imponderabilidade de Calder; os cabos, as amarras e a atitude interventiva de Christo; a conquista linear do espaço em Giacometti, a ortogonalidade de Lewit; a eleição do percurso e a instalação em Long; a abstração da figura em Moore; a subversão da escala em Oldemburg; a expressão do modelado e a parte pelo todo de Rodin; a assunção da fractura em Ruckriem ou a abertura ao espaço e a intervenção na paisagem em Shmitson, foram elementos fundamentais para a abordagem apresentada no conjunto de peças subordinadas ao tema Relicários, Interiores da Memória, em exposição no Porto.
A exposição foi originalmente apresentada em Março de 2013, nos Paços do Município de S. João da Madeira, sendo mostrada agora, de 5 a 29 de Março de 2014, no Palacete dos Viscondes de Balsemão, na Praça Carlos Alberto. Decorrente desta exploração da memória das expressões plásticas, Carlos Marques apresenta em paralelo a exposição Auto Retrato ou a Influência do Olhar, no Lugar do Desenho da Fundação Júlio Resende, até 16 de Março.
Carlos Marques é formado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes do Porto, onde foi professor durante vários anos. Apresentou o seu trabalho em quase duzentas exposições colectivas e individuais, nacionais e internacionais, sendo uma das participações mais recentes a apresentação das peças Uma Janela para Darwin e Espaço de Ensaio para Testar Impulsos Vários, no âmbito da exposição Exuberâncias da Caixa Preta/comemorações dos 200 anos de Charles Darwin, no Museu Nacional de Soares dos Reis. A sua obra foi premiada e faz parte de várias coleções públicas (câmaras municipais de S. João da Madeira, Porto, Matosinhos, Maia, Famalicão, entre muitas outras), privadas (Bienal de Cerveira, Fundação Couto, Colégio Liverpool, Diamond Board, entre outras), ou museus (British Museum em Londres, Museu de Amadeu de Sousa Cardoso em Amarante, Museu de Arte Contemporânea de Serralves no Porto ou Casa Museu Teixeira Lopes em Vila Nova de Gaia).
Relicários, Interiores da Memória
Vivemos atualmente num mundo global, de produção em série e essa realidade pesou na escolha de um processo de repetição e de construção de espaços interiores idênticos. Tendo-o como referência, construi repetitivamente pequenas peças com peso aceitável para uma espécie de esquema "take away" […]. A opção de prender num espaço "íntimo" memórias de algumas referências e o reconhecimento que delas tinha para a minha forma de trabalhar, pareceu-me adequado […]. Estes relicários são feitos de acasos e memórias, cortando, montando, colando, construindo, jogando, tentando não perder a memória das construções de infância, como que num regresso lúdico ao quarto dos brinquedos. Desse processo, ainda presente, dou hoje conta. O ciclo não se fecha. O caminho não termina, apenas permanece adormecido, latente, e o manuseamento dos materiais e o gesto, transporta connosco outros ciclos, outros círculos. Carlos Marques, Janeiro 2013